top of page

Koda Gabriel: por trás do meu sorriso doce e tímido, existe luta

FB_IMG_1560465662506.jpg

(Foto: Koda Gabriel)

           Nosso trabalho não estava saindo como queríamos, correndo para lá e para cá atrás de fontes para a nossa reportagem, Koda surgiu para nós como a esperança em meio ao caos. Utilizando nossas redes sociais e com a ajudinha de um amigo, rapidamente trocamos telefones e marcamos um encontro.  Muito solícita e disposta a conversar, era exatamente quem precisávamos encontrar depois de tantas tentativas frustradas de entrar em contato as fontes que nos foram sugeridas dentro da universidade. Nos encontramos, em uma manhã daquela mesma semana, no ICEB (Instituto de Ciências Exatas e Biológicas/UFOP) e procuramos um cantinho para sentar e conversar. À primeira vista, tomada por timidez ou desconforto por não nos conhecer, ela estava longe de ser aquela pessoa disposta a falar que conhecemos na internet. Um pouco sem jeito e com aquele nervosismo de quem ia ser entrevistada, mal sabia ela que, provavelmente, estávamos mais nervosas e ansiosas que ela. Assim que começou a falar, percebemos que aquela timidez era só uma primeira impressão. Ela fala e fala com propriedade, conta a sua história, das suas lutas e dos desafios travados. Estamos falando de Koda Gabriel, trans não binário, um dos 11 alunos trans entre 13 mil que frequentam a Universidade Federal de Ouro Preto. Por se reivindicar ao não binarismo, Koda não se importa de ser chamado de “ele” ou “ela”. “Fica a critério da pessoa. Não me incomoda, desde que seja com respeito”. Fazer parte deste número, ainda pequeno, tem um grande significado. Koda está bem ciente do seu papel nessa luta e da importância desse movimento dentro das universidades. Ainda na adolescência, sempre sentiu que não se encaixava nos padrões da sociedade, ser homem ou mulher, heterossexual. Sua primeira visão de si mesmo foi se enxergar como uma mulher lésbica. Esse é um caminho muito comum na transexualidade, ter a primeira visão de si mesmo como gay ou lésbica, já que a transexualidade ainda é menos divulgada e conhecida. Vindo de Ipatinga, uma cidade relativamente pequena, certas discussões, como sexualidade, não eram pautadas. Dentro de casa, o diálogo também não é fácil devido ao preconceito, principalmente do pai, e assumir sua identidade não é uma opção. Meus pais são muito fechados em relação a isso e meu pai, principalmente, é muito preconceituoso. Eu tenho dois irmãos gêmeos mais novos e um deles é gay. Esse é um assunto que existe desde sempre em casa, mas ninguém toca porque meu pai não aceita. Então tenho muita relutância em falar, porque é diferente, mais difícil. Mas eventualmente quando tiver minha independência financeira quero falar com a minha mãe e se for necessário eu falo com meu pai”. Nas ruas, as pessoas falam e olham torto. Se hoje já é difícil abordar questões como essas, há alguns anos a dificuldade era ainda maior.

           Aos 16 anos se identificou com uma pessoa trans não binária. Hoje, com 21, ainda passa pelo processo de aceitação, tanto de si mesmo como dos outros. Por se identificar com o não binarismo, Koda enfrenta dificuldades de como se portar perante o outro, como se precisasse assumir uma só identidade para ser aceito “eu fiquei boa parte da minha transição não vestindo coisas que eu queria vestir por medo das pessoas me deslegitimarem por causa de uma peça de roupa”. Uma simples unha pintada fazia com que não o vissem como homem, por exemplo.

          Sobre o espaço que conquistou em uma universidade pública federal, Koda enfatiza a importância da sua presença representando seus pares. Isso demonstra que existem muitas outras possibilidades além daquilo que a sociedade impõe, como a falta de estudo, um subemprego ou até mesmo a prostituição. “Eu conheço muitas pessoas trans adolescentes e é uma representatividade elas verem que existem várias pessoas trans na faculdade que estão persistindo. Que existe aceitação até certo ponto. É um ambiente hostil? É, mas dá para se viver ali e causar revolução a partir de dentro. É difícil, mas a gente consegue”. Ciente do seu papel como estudante trans, Koda participa de projetos de extensão que querem levar discussões como sexualidade, gênero, feminismo, preconceito para dentro do seu curso, composto majoritariamente por homens héteros, para o espaço que ocupa, no caso, o ICEB. Por fim, Koda deixa apenas uma mensagem para aqueles que assim como ele luta diariamente por seu lugar, seus direitos “o principal recado é não desista. Parece que vai acabar o mundo, mas não acaba não”.

(Fotos: Reprodução/Facebook)

bottom of page