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TRANSformação na universidade

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Auditório do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) durante a I Roda de Conversa do Projeto Vidas (Foto: Laís Ribeiro)

          Em agosto de 2015, a UFOP optou por adotar o uso do nome social para discentes, docentes e servidores trans dentro da instituição. Desde essa data, o nome social consta nas listas de chamadas, nas carteirinhas e nos sistemas dos alunos(as) e professores(as). Até 2017, três alunos já haviam solicitado o nome social. Medidas como essa podem até parecer pequenas diante do tamanho da questão, mas possibilita que alunes transitem pela universidade com maior conforto e menos constrangimento, já que a sua identidade é reconhecida institucionalmente. Para Ludmilla Camilloto, em sua tese do mestrado TRANSGENERIDADE E DIREITO DE SER: relação entre o reconhecimento de si e o reconhecimento jurídico de novos sujeitos de direitos, fica evidente, cada vez mais, que a Universidade, enquanto instituição, e também por meio de seus alunos, tem se mostrado aberta a esse tipo de discussão e mudança: “Acho que a Universidade vem se mostrando cada vez mais aberta e flexível, disposta a acolher a diversidade. No ICHS (Instituto de Ciências Humanas e Sociais/UFOP), por exemplo, existe um banheiro para todos os tipos de sujeitos. O banheiro não é generificado, então frequenta quem quiser. Quando você chega no DEART (Departamento de Artes Cênicas/UFOP), tem banheiro de mulheres, mas para todas as mulheriedades: mulheres cis, mulheres trans. Tem banheiros de homens: homens cis, homens trans. Em outras unidades isso ainda não existe, não se pensa dessa maneira, mas aqui já estamos atentos”. 

          Apesar da Universidade, como instituição, se mostrar aberta à diversidade, no dia a dia, o preconceito e a transfobia continuam presentes nos corredores e nas salas de aulas. Koda Gabriel tem 21 anos, é trans não binário e cursa Ciência da Computação. Sua transição começou há cerca de dois anos dentro da Universidade, quando descobriu sua identidade trans. Em 2017, entendeu a identidade. Hoje, consegue explicar abertamente sobre ser trans e a recepção: “foi surpreendente para mim. Em geral, não criaram nenhum problema. A maioria, por exemplo, não sabe muito bem o que é, mas também não criou resistência”. Koda optou por não pedir o uso do nome social legalmente para a Universidade, já que seus pais não sabem da sua identidade e ainda é dependente deles. Por isso, decidiu conversar diretamente com os professores para que chamassem pelo seu nome social em sala de aula. Apesar dos deslizes de quem não está acostumado com a situação, todos respeitaram o pedido, exceto um. Ela conta que um professor em específico mostrou relutância em aceitar o uso do nome social, já que juridicamente o mesmo não existia e com isso gerou várias situações constrangedoras no dia a dia. “Dentro da faculdade o maior preconceito veio desse professor, que por decisão própria escolheu não me respeitar. Foi complicado e eu não podia fazer nada. Foi um período muito difícil de ir para aula, as dele principalmente. Uma professora acabou entrando em contato com o advogado da UFOP para ver o que a gente podia fazer. Graças a Deus eu passei na matéria. Mas ela disse que até ia levar isso para o colegiado, porque é regra e ele deveria ter respeitado meu nome social. Para mim isso foi muito marcante”. A lei autoriza pessoas trans a mudar de nome independente de cirurgia ou decisão judicial, ou seja, a pessoa que se identificar com outro gênero automaticamente pode fazer o uso do nome social no seu dia a dia. E é assim que é com Koda, “tem gente hoje que se eu falar meu nome de registro, não sabe de quem está falando. Eu acho isso muito massa. Uso meu nome de registro só em documento, quando precisa”.

          Nos últimos anos, a Universidade, como instituição e por meio daqueles que a frequentam, tem se mostrado preocupada e atenta a causa da diversidade. Hoje, é possível acompanhar inúmeras iniciativas como projetos de extensão, pesquisas e coletivos em prol da diversidade, que discutem questões de gênero, sexualidade e representatividade. Em 2017, a TV UFOP produziu mais uma temporada do programa Vida de Estudante. A temporada chamou atenção do público e alcançou cerca de 22 mil visualizações e mais de 280 compartilhamentos em redes sociais devido aos temas considerados tabus. Já no primeiro episódio, o assunto tratado foi a LGBTfobia dentro da Universidade. A atração explicou o significado da sigla LGBTQ+, alguns alunos entrevistados respondiam à pergunta: Você sabe o que é LGBTfobia? As respostas variavam de acordo com a vivência de cada um. Questões como o preconceito dentro da instituição por parte de professores, alunos e dentro das repúblicas foram abordadas e os participantes relatavam situações que já presenciaram. Por outro lado, há também o relato de como a comunidade estudantil está mais aberta e disposta a lutar por mudanças, representatividade e direitos. Além dos depoimentos, a reportagem mostra a homenagem feita no ICSA (Instituto de Ciências Socais Aplicadas/UFOP) ao professor André Colares, vítima da homofobia e assassinado em 2016 em uma festa de formatura na cidade de Montes Claros. Um grafite em uma das paredes do prédio, que homenageia o professor, representa a importância de se falar em LGBTfobia. O gesto está ali como forma de protesto e para que ninguém esqueça que crimes como esse acontecem todos os dias. Com pequenos movimentos, a Universidade e seus membros se mostram cada vez mais unidos para se tornar um lugar plural, de respeito e aberta a todes. 

Nome social é o que corresponde à identidade de gênero, a forma como a pessoa quer ser chamada. Nome civil é o nome utilizado nos documentos e são correspondentes ao sexo designado no nascimento. A alteração do registro civil pode ser feita por um processo e autorização judicial. O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em 2018, que as mudanças podem ser feitas sem a realização da cirurgia de redesignação sexual.

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